Aos meus pais...
quarta-feira, janeiro 28, 2015
Como é que vou escrever este post, só para estas primeiras palavras foi preciso respirar fundo muitas, muitas vezes. Não sei se no mundo existe amor maior, que o meu pelos meus pais. Vocês responderão, que existe claro, o vosso amor pelos vossos pais. Então compreendem-me certo? Tudo o que aqui vou escrever ressoa na vossa alma tenho a certeza, por isso perdoem-me se este post é mais lamechas que o costume, mas estou aflita, e apetece-me apresentar-vos literalmente, o meu Manel e a minha Maria.
Os meus pais foram crianças pobres, com vários irmãos, história tantas vezes repetida, cedo tiveram que ajudar em casa. Foram à escola fizeram a quarta classe e pronto, esperava-os o trabalho, muitas vezes debaixo de maus tratos. O meu pai trabalha desde os 11, a minha mãe desde os 12. Casaram pouco antes dos 20 e tiveram-nos muito cedo, para o que é hoje a realidade da vida, a minha mana nasceu quando a minha mãe tinha 20 anos certos, e eu sem aviso, cheguei 18 meses depois.
Da vida conhecem o trabalho, fomos passar férias, que me lembre uma única vez, para a praia da Manta Rota, no Algarve. Na verdade a necessidade de esticar sempre o dinheiro, e o fato de vivermos a 5km da praia, (bênção), não motivava o luxo. Afinal havia dois adultos e duas garotas, para comer, vestir e estudar. O meu pai é um estofador à moda antiga, quase um artesão e cedo quis estabelecer-se por conta própria, a minha mãe deixou as limpezas e juntou-se-lhe, porque ele precisava de uma costureira.
Tiveram sempre muito trabalho, muito, mas nunca, nunca ganharam dinheiro! O processo foi sempre tão manual, as instalações (num anexo junto a nossa casa) eram tão pequenas, que se fazia bem, mas pouco. E depois havia o medo. O medo de dar o salto para umas instalações maiores, contratar mais um par de mãos, de comprar mais uma máquina, ficava sempre a pergunta - e se o trabalho pára? - Nunca parou. Mas eles não deram o salto, com medo de não poderem acautelar despesas, de faltar alguma coisa às meninas. De modo, que os meus pais ganharam na vida, apenas o suficiente para nos dar o essencial e educação. Um curso superior a cada filha era a meta. Ainda por cima juntamos-nos as duas na faculdade, não imaginam o sacrifício que foi!!! Eles nunca mediram esforços, nunca descansaram, nunca pensaram neles, eramos sempre nós, sempre com muito amor!
E depois do curso, eu descobri que afinal uma loja e a decoração de interiores é que era, eles mais uma vez nunca descansaram, sempre prontos a fazerem os estofos dos meus projetos. Acompanharam-me desde o começo são os meus maiores aliados, querem é ver-me feliz com as coisas que executo e servirem bem as pessoas. Sempre quiseram fazer tudo com muita qualidade, compravam os melhores materiais, os que garantissem o melhor sofá ou cadeira, mas depois para que os clientes não achassem muito caro, tiravam na mão de obra, resultado sobrava pouco. Com os meus clientes é a mesmíssima coisa, querem que o cliente fique satisfeito. Nestes quase 10 anos que trabalhamos juntos, já fizemos tanta coisa, sofás, camas, cadeiras, almofadas, tanta coisa, tudo feito com tanto amor - Gostas filha? Era isto que querias? Os clientes gostaram? Anjos na minha vida!
Há 4 anos atrás o meu pai foi operado ao coração, logo a seguir ao meu casamento veio a noticia, precisava urgentemente de ser operado, porque estava em perigo de vida. Foi um sufoco! Ele teve que perder 10 kilos num ápice, para depois ser operado. Durante esse tempo certificava-me sempre que o meu telefone tinha som, e que durante a noite estivesse sempre na mesa de cabeceira. Mas a cirurgia correu bem, e o meu pai ficou livre de perigo. Claro que desde aí, acalmou muito mais o ritmo de trabalho, tínhamos muita atenção aos esforços. Mas ele não queria parar, nem podia tinha uma filha para ajudar, uma casa para manter e porque o trabalho era o amigo sincero que conhecia desde os 11 anos.
Pensei que devidamente recauchutado o meu Manel ainda estaria bem durante muitos anos e a neta deu-lhes um sopro de juventude, Meu Deus que avós tão babados. Fizeram questão de cuidar da Mafalda até quase aos 3 anos, sempre tão atenciosos, tão amigos, e com a minha mãe na área, oh mulher de fibra, incansável, a minha mana ficava mais descansada no trabalho dela, e a Mafalda amada e bem cuidada.
Ontem soube que o meu pai está outra vez com complicações cardíacas, estão proibidos os esforços! O meu mundo estremeceu. Então mas a cirurgia não resolveu? Durou tão pouco tempo os resultados? A ideia de que ele possa ter medo, que se sinta um inválido, ele que apesar de tudo o que passou na vida, se manteve sempre positivo, bem disposto, aterra-me! E se ele já foi operado, que soluções lhe restam agora? Sábado saberemos mais, temos consulta com o cardiologista que lhe salvou a vida, mas temo que aos 66 seja a altura de parar definitivamente! Ainda não conseguimos contar-lhe...
Só me apetece chorar, não pelos estofos, ainda que saiba que ele é o melhor, mas pelo que isso significa. A dor que sinto ao sabê-lo mais frágil, ele que sempre me empurrou para a frente, que me guiou, não é papel que lhe caiba, entendem? É que se eu olho para o lado, ou estico a minha mão eles estão lá, sempre inquebráveis, firmes e tão doces. São os melhores, completamente abnegados, seres de amor incondicional e de luz na minha vida. São o laço do meu abraço, o colo a casa a minha vida. Hoje homenageio ao trabalho deles, sei que já viram estas imagens, mas talvez hoje lhes conheçam um outro ângulo, o do amor. Perdoem-me se vos aborreci...
Havia mais, muito mais, tinha que vos mostrar todos os meus trabalhos.
Tenho uns pais fantásticos, são pessoas lindas, o melhor verbo que sabem conjugar é o de dar!
Não há amor maior!
18 comentários
Angela,
ResponderEliminarAdorei o seu post! Perdi o meu pai há seis meses, não me despedi dele convenientemente, porque estivemos a lutar e a dar-lhe esperança até ao último momento, mas tenho imensa pena de não lhe ter dito o quanto o admirava e amava e a imensa falta que iria sentir dele. As homenagens devem ser feitas em vida, as palavras devem ser proferidas em vida...depois é só o adeus!!
Um beijinho e as boas melhoras para o seu pai.
No que a mim me toca não foi aborrecimento algum. Foi para e pensar também nos meus pais, naquilo que tenho de lhes agradecer. E pode ter a certeza que apesar de já ter visto algumas destas imagens, agora olhei-as e vi precisamente o que a Ângela disse: amor, e muito saber. Que tudo corra pelo melhor, muita força!
ResponderEliminarQuerida Angela, já me comoveu com as suas palavras tão bonitas..infelizmente perdi o meu pai há 7 anos e a vida nunca mais foi igual ! a minha mâe Grças a Deus acabou de se curar de um linfoma, morro de medo de a perder ! aproveite muito os seus e que tudo corra pelo melhor, bj
ResponderEliminarMinha queria Ângela, compreendo perfeitamente o enorme aperto que tem no peito e imagino o quão assustador e preocupante deve estar a ser este momento! Os seus pais são uns guerreiros e juntos ultrapassarão esta fase complicada... Tudo vai correr bem e o seu pai terá forças para aos poucos conseguir perceber que terá que abandonar as actividades diárias que realiza desde os 11 anos... por muito que seja complicado, terá que conseguir "desligar-se do fiel amigo" (o trabalho) e ir buscar força e sorrisos à família linda que tem e à pequena princesa que tanta felicidade lhe trouxe! Deixar de trabalhar (ainda que temporariamente) é uma tarefa difícil mas a saúde é mais importante e com todo o vosso apoio, mimo e companhia, certamente que será mais fácil pensar positivo! um beijinho e muita força. Ana Isabel Ferreira
ResponderEliminarÂngela, sei perfeitamente o que está passar.
ResponderEliminarO meu tesouro mais velho, tinha 11 dias quando o meu pai teve um problema cardíaco que o deixou em coma. A felicidade do nascimento do meu primeiro filho ficou em stand by, até à sua recuperação. 9 anos depois, o problema voltou e para piorar a situação, a minha mãe também tem um problema de saúde que lhe limita a locomoção. Tenho meu marido a trabalhar fora do pais, os meus pais são o meu porto de abrigo, o meu e o dos meus filhos. Infelizmente, o apoio que me davam, deixou de ser possível, mas isso é o que menos me importa. O importante é eles estarem cá, junto de mim, mesmo que com as limitações que a falta de saúde lhes impôs.
Tenho a certeza, que também o seu pai, vai conseguir ultrapassar este esta partida que a falta de saúde lhe pregou, sabe porquê? Porque tem uma família que o AMA e que tudo fará para o seu bem estar.
Desejo-lhe muita força e as melhoras para o seu.
Bjs,
MJ
Viva Angela,
ResponderEliminarSenti todo o carinho que sente pelos seus pais. Lindo. E o medo... pela familia unida que são, pelo carinho que têm uns pelos outros, o amor, tudo vai ter que correr pelo melhor. Merecem.
Estou aqui a torcer por vocês.
Beijinhos,
Ruca Cortez Marques
Parabéns pela homenagem que aqui prestou aos seus pais! E coragem. Com o avanço da ciência hoje certamente haverá uma solução para o problema do seu pai muito melhor que a de há quatro anos. Vai correr tudo bem! Sofia Fernandes.
ResponderEliminarQuerida Ângela, creio que a maioria de nós já passou por sustos (o meu pai também já me pregou alguns mesmo valentes) e, por isso, as suas palavras são bem entendidas e sentidas. Desejo que tudo corra bem e que mostre este post aos seus pais, porque eles vão gostar de ler sobre o amor que sente por eles e como reconhece tudo o que fizeram por vocês. Beijos enormes.
ResponderEliminarÂngela, que bonita homenagem que faz aos seus pais!
ResponderEliminarAcho comovente o apreço e o afecto que mostra por eles, pois trata-se de um amor sem dúvida incondicional.
É normal essa sua grande preocupação, mas desejo sinceramente, que tudo se resolva pelo lado positivo da vida, e que tudo isto não passe de um grande susto.
VeraM
Desejo, sinceramente, as melhores do seu pai.
ResponderEliminarAproveito para dar os parabéns aos seus pais pelo trabalho deles, de facto é excelente. É uma filha orgulhosa e tem todos os motivos para isso.
Um abraço,
Alexandra
Querida (posso tratá-la por querida?) Ângela...arrepiei-me com cada palavra sua...descreveu na perfeição um amor que não tem definição possível, aquele que um filho sente pelos pais. bebi cad apalavra como sendo minha...também o meu pai foi obrigado a reformar-se cedo demais devido também a problemas cardíacos, após um quádruplo bi-pass feito já há uns 15 anos...
ResponderEliminarFelizmente tornou-se no avô mais babado que conheço com o nascimento da minha filha, mas infelizmente o tal sentimento de que fala em que se possa sentir "inválido" está sempre presente e isso obviamente que é um rótulo redutor que o deixou quase irreconhecível em termos psicológicos.
Mas é aí que a família entra e a sua é uma "pinha": lembrá-lo sempre que para que ele possa acompanhar o crescimento da neta, terá de abrandar o ritmo, a pouco e pouco, até se reformar e gozar a merecidíssima reforma.
O legado está à vista, são peças artesanais lindíssimas, sente-se o amor que lhes dedicou...mas chegou a hora de passar o testemunho, talvez ensinar alguém a arte e o ofício, sempre tinha um objetivo e a sensação de se ser querido e desejado...
Compreendo tão bem esse sentimento, bolas como a natureza é madrasta com a idade...
Desejo-vos muita saúde e que seja um processo o menos doloroso possível e que as notícias no sábado sejam as melhores possíveis, vamos ter ânimo e Fé... Da minha parte, pensamentos muito positivos...um beijinho para si... e muita coragem e força!
Rute
Parabéns pelos Pais que tem, e parabéns para eles, pela filha que têm:):)
ResponderEliminarHabitualmente não comento, hoje achei que o devia fazer! Beijinho, Manuela
Olá ,
ResponderEliminarquartos muito agradáveis . Eu gosto da combinação de cores básicas com um toque de cor . Boa contribuição .
uma saudação.
Minha Querida Ângela,
ResponderEliminarSó agora vi o seu post e fiquei sem palavras para escrever...
Compreendo muito bem a sua aflição pois o meu pai também já teve um problema grave de saúde e nessa altura fiquei sem chão...
Desejo as melhoras do seu pai, que se Deus quiser vai correr tudo pelo melhor.
Muita força para toda a família.
Um Beijinho Grande e um Abraço forte, minha Amiga!
As melhoras do seu pai Angela. Tudo vai correr bem...talvez o seu pai comece a apreciar outras coisas para além do trabalho e se realize nelas...como jardinar, caminhar, Passear, etc. Todos temos de parar um dia e 66 já é uma óptima idade para o fazer. Beijinho.
ResponderEliminarP.S. Ficamos a torcer por si no Querido M C...
Ângela, parabéns pelas suas palavras e pela homenagem sentida aos seus pais.
ResponderEliminarÉ o melhor que podemos dar aos nossos pais é mostrar o quantos os amamos e respeitamos tudo o que fizeram, fazem e farão incondicionalmente por nós enquanto filhas.
Pensamento positivo e sorriso nos lábios.
Beijinho
Didi
Olá Ângela, vai correr tudo bem com certeza. Compreendo tudo o que escreveu... os meus pais são mais idosos, muito carinhosos e é aquela sensacão de proteccão que o eles estarem ali ainda hoje me conforta...mas a idade deles já nos faz andar com o coracão nas mãos a qualquer imprevisto.
ResponderEliminarO trabalho do seu pai é impecável! E o seu também, e se a mãe é costureira deve ser dom de família!!
Um grande abraco
Teresa
És linda, Ângela. Neste momento adoro-te com todas as minhas forças.
ResponderEliminarSê forte, tudo passa.
Vou rezar por vocês.
Beijos e muita força.